Supremo Jordan

jordanÉ incrível como certas coisas tocam profundamente nossos corações. Como somos capazes de sentir amor, tristeza e dor quando nos ligamos a outras pessoas que, muitas vezes, sequer conhecemos pessoalmente.

Foi assim com o Jordan Rotta. Um gatinho levado, bravinho, que aparecia para fazer comentários ácidos e colocar ordem na Gatidade.

 Somos quase 7.000 pessoas, reunidas em torno de um gatinho chamado Borges e unidas por nosso amor aos gatinhos, nosso filhos.

É mesmo importante que alguém nos lembrasse de manter a harmonia. Mas hoje, mais uma vez, a Gatidade chora. Chora a perda de Jordan, nosso gatinho Supremo.

Foram 18 anos de companheirismo, de mimos e alegrias. Sua família se despede.

E nós, Jordan, também nos despedimos, porque nós nos tornamos uma família.

Eu sempre pensei que meus gatos seriam apenas meus, e que os gatos das pessoas que eu conheço seriam apenas delas. Mas isso não é verdade. Partilhamos nosso filhos, nossas alegrias, esperanças e nossa dor. Nossos medos, nossas dúvidas. E é por isso que viramos uma imensa família.

Escrevo este texto com os olhos encharcados, pois não consigo parar de chorar. Nem ao menos consigo acreditar que agora o Jordan é uma estrela, mas que, agora, passeia pelo céu. Não consigo acreditar porque parece que alguns seres são pra sempre. Parece que a despedida não tem espaço. Não deveria ter.

Não consigo aceitar essa perda, como creio que muitos também não conseguem. De repente tudo ficou em silêncio, só o vazio parece nos cercar.

*                                                                                                                                *                                                                                                                              *

Um gato (e todos os animais, na verdade) é uma estrela em nossa vida, iluminando tudo a nosso redor, é um anjinho que cuida de nós, alegra nossas vidas e faz com que a esperança não esmoreça.  É com seu ronronar que ele demonstra seu amor.

Jordan, o Supremo, não terá seu ronron ouvido assim, tão facilmente. Será preciso atentar, abrir o peito para ouvi-lo novamente. Mas sei que o vento se encarregará de trazer o barulhinho de seu coração para acalentar sua mamãe – e as tias da Gatidade – todos os dias. Como fez durante todos esses anos. O vento, as estrelas, eles trarão notícias e recordações. Enxugarão nossas lágrimas e nos acalmarão a alma. É assim que tem que ser.

Nunca, nunca mesmo, estamos preparados para dizer adeus. Um breve até logo é o que é ideal. Assim, Jordan, até logo. Nos encontraremos sim, e então, poderei dar um abraço apertado em você, este mesmo que eu quis dar quando você divava entre nós, mas que vai ter que esperar.

Mamãe Geisa, para você, nosso abraço apertado, nosso carinho.

 

 

 

 

Da paciência e outras coisas

Eu gosto de ficar sozinha. Gosto de ter o tempo só pra mim, de escolher o que vou fazer, de ouvir o meu silêncio e o ronron de meus gatos, de folhear um livro sem me preocupar com mais nada.

Para conviver com outras pessoas é preciso exercitar a paciência, a arte de ceder, a arte de fazer ouvidos moucos. É preciso aprender a arte de relevar, de ignorar.

Conviver com outras pessoas é também a arte de se aprender. Se conhecer, se estudar, se voltar para si mesmo.

Em um tempo em que disputas, guerras, inimizades começam a partir de um desacordo sobre um ponto de vista, ignorar o que irrita, magoa, machuca e mata a alma é uma declaração ferrenha de paz, quiçá de amor, embora não seja válido para todas as situações.

Não sou de maneira alguma especialista nisso. Gosto de brigar. De defender meu ponto de vista, de apresentar minhas convicções, meus sonhos. E de maneira alguma espero que com isso eu consiga “converter” alguém. Faço pois tenho medo de perder minhas ideias dentro de mim.

No entanto, hoje, com o caminhar do tempo, percebo que na maioria das vezes o desgaste é imenso para todos os lados. E não tem mais valido à pena expor ideias, sonhos, sentimentos. Recolho-me em mim, abraço minhas memórias e aprecio meu silêncio. Ouço o som de minha respiração e observo meus sonhos flutuarem, brincando em minha frente. Recolho minhas lágrimas e me reforço. Tento.

O processo de se aprender não é fácil. Costuma doer. Mas prometem que depois da tempestade vem o arco-íris. E eu adoro cores.