Hoje em dia é possível ficar doente só de conviver com as pessoas.
Antigamente, contam, as pessoas não eram – ou não pareciam – tão egoístas, más, sem senso de humor, sem sonhos, invejosas, cruéis.
Qualquer coisa que se diga hoje, precisa vir seguida de longas explicações, justificativas e uma certa dose de abnegação, para que você não se destrua com os comentários intolerantes e sem capacidade de relativizar, de olhar além.
Daí, bem aqui, já cabe uma justificativa. Não estou pregando o ódio, nem a liberdade de se sair por ai ofendendo as pessoas, praguejando ou dizendo asneiras.
Só que de repente as pessoas parecem ter perdido a capacidade de ler as entrelinhas, de compreender metáforas, de entender o que se sente e é dito de qualquer forma só para tirar o nó na garganta e assim, o “que vontade de esmurrar fulano” se transforma em ato de violência, numa ordem de matança, num sentimento de ódio generalizado.
E com isso vamos nos calando.
Vamos deixando de rir. De chorar, de se expressar. Porque tudo isso acaba se tornando demorado e complexo demais. É como ter que explicar a piada no final. Não tem graça.
Confesso que ao digitar essas linhas o mal estar toma conta de mim. Quantas explicações serão necessárias? Justificar o desabafo? Manter o silêncio?
Tudo isso nos adoece. Liberdade de expressão não é tolerância à violência de qualquer tipo, esteja claro. Não se pode confundir. Mas impor o silêncio também não contribui para o diálogo que deveria existir, óbvio, e nem significa acabar com os absurdos de nossas sociedade doente.
Não sei onde estamos, nem para onde caminhamos. Sei apenas que tenho medo deste caminho. E que nesta caminhada, me sinto doente, não tanto quanto esta sociedade, pois ainda consigo protestar dando risada de mim e das coisas. Todo dia, um pouquinho só.