Sou uma pessoa chorona. Não tem jeito.
Choro por qualquer coisa: vendo filmes, lendo livros, rememorando histórias, revendo fotos, relendo meus textos, antigos diários, ou simplesmente choro, sem precisar ter grandes motivos.
O lugar também não me importa muito. Cinema, ônibus, ruas, sala de aula, sozinha, acompanhada, no trabalho.
E choro, como todo mundo, por vários motivos: de alegria, de saudade, de dor, de tristeza, de vazio. Mas não há nada pior e mais desgastante que chorar de raiva! Chorar com todo o ódio que se tem guardado, sabe-se lá onde essa coisa fica!
Uma das primeiras vezes em que me recordo ter chorado de raiva foi aos 16 anos. Estava em casa, estudando para uma prova de biologia e não conseguia decorar – isso mesmo, decorar – a matéria. Lia, relia e esquecia. Chorei, com muita raiva, daquelas que fazem a cabeça doer, o rosto inchar e ficar bem vermelho, porque não estava sendo capaz de decorar aquelas páginas. No fim, eu acho que acabei decorando. Não lembro o resultado da prova.
Mas existe um lugar que consegue bater recorde em me fazer chorar de raiva: o trabalho. Em todos os meus trabalhos, estive pensando enquanto tomava banho, eu chorei. Chorei de medo, de tristeza, de dor. Mas sempre, sempre, também de raiva.
Acredito que o próprio trabalho é uma coisa que me irrita. Nunca consegui associar o trabalho com uma coisa útil em minha vida. Ao contrário. Por mais bacana que seja o que eu faço, as pessoas com quem trabalho e o resultado de meu esforço – seja ele físico e/ou intelectual – naquelas horas que eu perco – porque considero sempre um perda – no ambiente de trabalho, estou deixando de fazer coisas que eu amo, coisas que eu quero fazer única e exclusivamente para mim, por mim. Deixo de ler um livro; deixo de ver meus gatos crescerem, envelhecerem e fazerem uma série de desordem; deixo de passar mais tempo escrevendo; deixo de ficar pensando livremente em qualquer bobagem porque passo muito tempo preocupada com o tempo que preciso utilizar de maneira mais “produtiva” já que grande parte do dia é “jogada fora” no trabalho!
Assim, uma hora ou outra acabo explodindo e, por muitas vezes, motivos banais, chorando de raiva.
Hoje foi um dia assim. Cheguei para trabalhar, depois de uma manhã de aula, preparada para um grande movimento, dia de pagamento, holerite… Mas estava preparada, pois por mais que não seja afeita ao trabalho eu gosto mesmo de lidar com “meus velhinhos”.
Mas uma “implicância” idiota de uma pessoa idiota que já não trabalha comigo, porém sobre algo que afeta o meu trabalho, desestabilizou meu frágil equilíbrio, e pela primeira vez no meu novo posto de serviço, eu chorei. E chorei de raiva, e chorei muito. Aquele choro que cansa, que tira o fôlego. Aquele choro que dói a cabeça, a alma, o corpo todo.
Ainda agora, horas após o ocorrido sinto os olhos pesados, ardidos, o corpo cansado. A raiva passou, como sempre passa. A solução também foi encontrada. A bem da verdade, não havia nenhum problema. Talvez agora passe a haver. Mas para ser sincera – e um pouco cruel – essas horas de raiva me fazem tomar decisões drásticas que só reforçam minha velha teoria: se me querem como uma pedra no sapato, serei uma pedra pontiaguda!
Uma coisa, porém, não posso deixar de dizer! Sou uma pessoa – e um dia usarão isso contra mim, eu sei – de sorte! Nos lugares por onde passei, por onde trabalhei, encontrei apoio de pessoas queridas, de pessoas que se tornaram um pouco minha família.
E a raiva que senti hoje foi dissipada por essa família que me cerca no trabalho. Essa família que me faz sorrir, que me faz esquecer gente inútil, que me faz rir de mim mesma, por ser tão boba a ponto de chorar de raiva por quem não merece que eu sinta ao menos pena!