Você fica linda.
Passa horas sentada no salão, no que bem se poderia chamar, sala de tortura moderna. Mas dizem que é por uma boa causa.
Ao final o resultado é bom. Bom mesmo. Embora por mais que você se olhe não pareça estar olhando para você.
Eu, pelo menos, demoro a acostumar e me sinto andando quadrada.
Não é que eu não ache bonito. Eu acho. Inclusive há dias em que passo um pó ou alguma coisa que disfarce aquela cara de mal-humor ou de noite mal dormida… É só que, definitivamente, não fui agraciada com o dom da vaidade. Não!
Eu ando de qualquer jeito, tênis e sapatilhas recheiam meu armário. É de coisas coloridas que eu gosto. Coisas largas que não me sufoquem, não me apertem. É aquela coisa: “gostoso como um abraço”. Mas não um abraço esmagador. Isso, não!
Aí, depois de todas aquelas horas sentada ouvindo “abre olho, agora fecha, estica o lábio, um pouco pra esquerda”, e outras coisas do gênero, você se depara com uma pessoa de pele lisa, de cabelos magníficos. Aí é que a festa começa.
De salto, toda bonitinha, você fica lá… Eu pelo menos me sinto completamente fora de contexto. Um boneco sem história. Tenho vontade de dobrar as pernas em lótus na cadeira, de me espreguiçar, de encostar o corpo na cadeira e jogar as pernas lá pra frente… Mas não. Numa festa a gente se comporta como uma lady. Ao menos enquanto dura o humor e a boa vontade.
Depois meu desejo é sair correndo.
Assim, no meio do evento, decido que a atuação foi muito boa, obrigada, mas agora é hora de baixar as cortinas e voltar pro meu camarim.
Não há sensação mais deliciosa, perfeita, mágica que tirar os pés de um salto e largá-los descalços no chão frio. Esticar os dedos e sentir que uma parte de você já foi devolvida. Depois é só tirar a maquiagem.
Você se encontra ali. Até dou risada. “Olá, eu!”
O cabelo… Tá certo, adorei meu cabelo… Fiquei morrendo de dó de estragar, mas ele não duraria para sempre mesmo, então…
Finalmente, de cara limpa, vestindo uma camiseta super velha, cheia de buracos, uma bermuda que um dia foi uma calça e de pés livres, consigo respirar novamente. E percebo que o melhor da festa é chegar em casa, de volta para você mesmo.