Tecelagem

Eu admiro muito aquelas pessoas que tecem, que pintam, bordam, que transformam ideias em trabalhos delicados.

Eu não tenho esse talento. Meu talento é de outro tipo. Eu só sei recolher fragmentos de ideias e transformar em sonhos.

Sonhos que por vezes me roubam o sono a fim de se alimentar. Sonhos que tornam a linha entre o imaginado e o real uma névoa tênue, quase imperceptível.

Minha tecelagem onírica não tem hora e nem lugar pra começar. Ela invade qualquer espaço que eu habite ou que sonhe habitar.

É forte e me carrega em seus braços, ameniza meus medos, enxuga minhas lágrimas e à base de meus sonhos, constrói caminhos que eu desejo trilhar.

Caminhos bordados, caminhos tecidos com pedaços de mim mesma. Com a dureza das quedas, a fragilidade dos passos, as incertezas do amanhã. São sonhos apenas.

Sonhos que giram ao meu redor, sonhos que permitem voar. Sonhos que se desfazem na crueza dos dias.

Na tentativa de alcançar a perfeição, por vezes, as tecelãs e artesãs desmancham parte do trabalho e o refazem. Eu me desfaço na realidade e meus sonhos tentam reconstruir-se, reconstruir-me.

Essa reconstrução infinita segue a lógica dos sonhadores incuráveis e tece um mundo que eu acredito poder encontrar.