Bad Day

Poucas coisas são tão ruins quanto tentar dormir e não conseguir dormir. Porque deitar, fechar os olhos e permanecer com o cérebro a mil é doentio.

Uma coisa maravilhosa é imaginar aquela noite em que se deita, exausto depois de um dia miserável, e dormir o sono dos justos. Em paz.

Eu nem sei mais o que é isso.

Deitar é a hora temível. A hora em que o dia repassa em minha cabeça, em que peso o que eu disse e o que não disse, o que fiz e o que não fiz. É medir a vida que imaginei que teria aos quase quarenta confrontada com a vida de merda que levo aos quase quarenta.

É encarar todas as decepções, as perdas, as limitações e os fracassos. Tento encarar positivamente e pensar que só sou quem sou porque vivi tudo o que o vivi da maneira como vivi.

Mas é também ver deitar por terra tudo o que achei que seria e que, ao fim e ao cabo, não sou.

É encarar o medo, as perdas. É encarar o que de fato se fez.

As noites, que sempre foram a hora mais deliciosa se tornaram as horas mais temidas. As horas em que vejo a mim mesma sem máscaras.

As horas em que morro por dentro quando um gato faz pouco xixi e com gotas de sangue. As horas em que me pergunto se terei como pagar o próximo aluguel. As horas em que me pergunto de que adiantou estudar o que amo se no fim das contas isso não paga a conta de água. A hora de engolir o orgulho por ter precisado fazer rifas para comprar ração e pagar o veterinário. A hora de questionar a inteligência. A hora de questionar a habilidade em lidar com a vida.  A hora de perguntar se vale a pena trabalhar feito um burro pra que ninguém veja ou reconheça isso. A hora de questionar os posicionamentos. A hora de pesar se vale mais a pena lutar pelo que se acredita ou ser um cretino com grana no bolso. A hora de se perguntar se vale a pena estar aqui.

A hora em que a dor de estar aqui grita mais alto.

Deitar e não dormir é cruel. Cruel porque te obriga a encarar a merda toda. A encarar tudo o que você é e o que não é; a hora de repassar que você, aos quase quarenta, precisa da ajuda da mãe pra se manter; que precisa ouvir que um clube de livros é idiota (afinal quem, nessa situação, acha um clube de livros legal?). Hora de pensar que ter animais é idiota quando mal se consegue se manter com o mínimo possível. Hora de pensar que tudo foi em vão. Será que foi?

A hora de deitar virou um castigo. E chorar já não resolve.

E não é pena que se espera, e muito menos, palavras de consolo. Tudo o que se deseja é uma noite de sono em que seja possível esquecer. E dormir pra esquecer. E, se possível, nunca mais acordar.

O Retorno

Ah, que saudade do meu bloguinho querido. Há algum tempo eu não conseguia mais entrar aqui por uma das muitassalvando-o-blog lerdezas que cometo na vida. Depois do arrombamento da minha casa eu resolvi incluir itens de segurança em algumas plataformas que utilizo. Aí pensei que estava tudo muito bem, obrigada.

Então, as empresas de telefonia me resolvem incluir o 9 nos telefones do sul também. E eu, muito lerdamente nem me toquei que precisava tomar algumas precauções. Resultado: perdi o acesso ao blog.

Depois de muitas lutas – pois como diz meu irmão mais novo sou uma reles usuária do mundo da tecnologia -, depois de muita raiva, acabei desistindo e pensando em reativar meu blog velho. Até aí tudo bem. Mas o que fazer com os anos de textos daqui? Por não ter mais acesso, não conseguia sequer importar. Vamos lá no copiar e colar eternamente que um dia a coisa se resolve.

Aí, tava la sentada no sofá quando, entre outras milhares de dores existenciais, pensei no blog. Costura vai, costura vem, decidi tentar contato com o helpdesk do wordpress pedindo ajuda #peloamordosemor.

Aí começa a parte em que atesto a lerdeza, já tantas vezes ressaltada. Tudo muito bonitinho, muito técnico e eu “como vou explicar a minha situação?” Fui para o google translate (porque a preguiça domina, sempre) e escrevi um texto em português, copiei o resultado em inglês e mandei.

Minutos depois, enquanto caseava um ursinho, recebo a resposta. WTF???

Corri pro translate pra me ajudar a entender que tanto de coisa o tiozinho me falava. Hmmmm entendi. Vou responder pro translate again.

Aí começou a demorar e eu pensei: agora danou-se. Nem o tiozinho entendeu.

Mas… uma boa alma entrou em contato: Minha filha, como vai? Nós falamos português também, que coisa, não? Hahahhahahhahaa. A pessoa foi muito, mas muito mais gente boa que isso e me salvou. Aliás, salvou o blog. Ri muito e antes de terminar o ursinho vim postar minha queimação de cara internacional.

Porque, sabe, né? Se não for pra passar vergonha eu nem levanto da cama.