De frente pro espelho

O espelho, para mim, é algo mágico,  misterioso, insondável. Às vezes também assustador.

Minha relação com eles, os espelhos, sempre foi dúbia. Nunca tive, nem creio que terei, a certeza de estar olhando para algo que ele reflete como sendo uma expressão do real.

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Hoje, por exemplo, quando me olho no espelho, não consigo ver uma mulher de mais de 30 anos. Tampouco vejo uma menina. Não sei ao certo o que vejo refletido naquele objeto estranho. E, na maioria das vezes, acabo evitando olhar para ele. Ou para mim, não sei.

Entretanto, algumas vezes, me pego olhando para ele, para além dele, na tentativa de descobrir o que pode haver ali, o que ele pode me mostrar que eu ainda não vi, ou percebi, direito. E, muitas vezes, fico chocada.

Parece-me que ele reflete um corpo que não me pertence, um rosto que não é o meu. Faço caras e bocas e busco encontrar alguma semelhança, algo que lembre, minimamente, aquilo que sinto ser eu.

Ele não reflete todo o cansaço e desânimo que sinto. Toda a sensação de desespero que me toma interiormente, não é refletida ali. O espelho é um vazio. Ao menos estaria ele refletindo o vazio de meu ser?

Ele não fala. Não responde, não aponta para lugar nenhum. Sorri o sorriso amarelo de volta para mim, como se isso fosse o suficiente. Suficiente para que? Para quem?

Nos olhamos em silêncio, de frente um para o outro. Ambos, talvez, esperando o próximo passo. O primeiro passo. Que nenhum de nós dá.

Continuamos nos olhando em silêncio, buscando, um no outro, uma verdade tão bem escondida, quase esquecida, que nenhum de nós pretende libertar.