De novo, outra vez.

Mais um ano vai embora. Ao que vejo, 2016 não deixará saudade nenhuma. Crises política e econômica, a filhadaputice rolou solta, o medo veio querendo se instalar e o futuro que já pareceu mais certo, agora está nebuloso, quando não medonho.

Pra mim o ano foi daqueles inesquecíveis. Inesquecivelmente uma merda!

Começou o Boris internado em estado grave. Quando finalmente meu pelúcio voltou pra casa as finanças tinham ido por água abaixo. Fui segurando como dava pra tentar pelo menos pagar aluguel e os medicamentos dele.

Defendi minha dissertação e me tornei mestre. Era um sonho que se realizava, mas de uma maneira muito diferente da que eu havia sonhado. Até hoje não digeri as coisas direito pra poder falar com um pouco mais de razão.

Aí o José Emílio teve que passar por uma cirurgia para remoção de pedras na bexiga. O Jorge também resolveu passar por várias cistites e o Joaquim teve gastrite, chegando a vomitar sangue.

Para ajudar peguei dengue. A insônia se apossou de mim. A fibromialgia atacou com gosto. 2016 mostrava sua cara bem sacana.

Nada estava nos eixos quando minha casa foi arrombada e levaram minhas coisas. Computador, HD externo, pendrive, pulseiras, anéis, etc., e o pior: minha caixa de recordações, construída pelo meu pai quando eu tinha 13 amos. O que os malditos queriam com a minha caixinha eu não consigo imaginar já que ela só tinha coisas importantes pra mim, mas de valor financeiro zero. E aí lembro de minhas fotos, meus textos, minha dissertação, do início de uma futura tese, e de milhares de coisas que eu acumulava pra ver um dia. Isso e os mais de 600 filmes e séries. Ok. A gente recomeça. E aqui meus amigos se mostraram mais uma vez! Montaram uma campanha pra me mandar cartas novas. Eu, chorona que sou, podia ter criado um novo oceano!

A merda é que o assalto teve consequências terríveis. José Emílio recém operado, foi piorando até que ele sofreu uma evisceração. Fez nova cirurgia e passado dois dias, não resistiu e faleceu. Meu bebê tinha apenas 3 aninhos.

Eu, nos dias em que se seguiram ao assalto não dormia mais, tinha sobressaltos a todo momento. Um inferno. Perdi a vontade de ler, de estudar de fazer qualquer coisa. O medo se instalou. E o ódio também. Não podia mais ficar naquele lugar. Mudei e pra isso foi preciso abraçar novas dívidas.

Jorge que vinha de várias obstruções urinárias precisou operar. Era urgente. Houve a sugestão de eutanásia. Mas ele resistiu bravamente e hoje está doidão e mais animado que antes. E a mãe dele muito, mas muito mais pobre que em toda a história de vida dela. Mas ok.

Aí não houve jeito. Foi preciso aprender a nadar, já que a água não estava na bunda e sim no pescoço. Foi petsitter pra cá e pra lá. E, então, me aventurei em aulas online pra aprender artesanato. Até o momento são três trabalhos: o formal e mais dois informais. Nunca trabalhei tanto na minha vida!

A rotina se alterou imensamente. Se antes eu podia ler até os olhos caírem hoje mal consigo comprar um livro barato no catálogo do avon. E pra ler só mesmo quando a insônia bate.

Fins de semana, feriado e férias viraram tempo pra trabalhar no petsitter ou nos artesanatos. E confesso que me surpreendi comigo mesmo. Não porque eu tenha achado a fonte da alegria, mas porque eu achava que não daria conta e – embora eu ache que ainda falte MUITO mesmo pra poder considerar meu trabalho uma obra digna das artesãs – eu consigo fazer peças que antes só de olhar eu já me embanava toda. E já vendi coisas pra vários lugares! E isso faz com que a ração e os medicamentos da família sejam garantidos.

Por fim, Boris que começou o ano pelas últimas está estável. Joaquim está gordo, pré-diabético e preguiçoso, mas bem. Jorge está novinho em folha, Cototo permanece a alegria e o gás da juventude, do alto de seus dois aninhos. E a Pandora é aquela coisa: está nas horas extras. Uns dias são bons outros são terríveis e não há o que fazer. Se ela quer comer carne, é carne, se quer comer patê é patê. Magrelinha mas ainda malvada ela tá mandando em tudo muito mais agora que nos 13 anos anteriores.

2016 foi um ano muito difícil, que passou arrastado, que teve momentos horripilantes. Mas não foi só merda não.

Mais uma vez eu fui cercada por amigos maravilhosos, aos quais só posso agradecer até o infinito. Minha mamis também se desdobrou pra segurar as minhas pontas. Aprendi um montão de coisas e me diverti com isso.

Talvez seja mesmo nas horas mais fodas que a gente encontre a força mais genuína. Se for assim 2016 criou uma galera muito poderosa.

Ao fim e ao cabo, percebi que sou louca de pedra.

E, mais uma vez, de novo, recomeçaremos.

Tomara que dessa  vez a viagem seja, pelo menos, mais tranquila.