Há alguns anos passei por uma espécie de terapia. Na casa de uma amiga, longe do comodismo do lar doce lar, pediram-me que apenas ouvisse. Ouvisse minha voz, ouvisse a voz dos outros, o som ao redor.
Era uma experiência ímpar, afinal, somos treinados para falar e não para ouvir.
Ouça a sua voz. Para que falar tão alto? Quais outras vozes você deseja calar manifestando-se assim?
Foi um choque. Eu nem sabia que falava alto. Para mim, falava na altura normal. O suficiente para que os outros me ouvissem. Mas naqueles dias tranquilos percebi que não falava alto, eu gritava. Impaciente, queria ter a palavra final, a decisão sobre tudo. Queria ser ouvida a qualquer custo. Uma sensação de impotência misturada com arrogância e outras coisas que ainda não sei ao certo como nominar.
Passado alguns dias, nos quais não apenas me dei conta de que para ser ouvida não era preciso gritar, mas principalmente ouvir, fui para a casa de minha família, antes de voltar ao meu lar definitivo. Foi uma prova de fogo!
Com todas as peculiaridades de uma família esquisita, a minha tem a capacidade de transformar qualquer evento num verdadeiro hospício. Somos loucos por natureza. Para declarar amor, gritamos; para brigar, gritamos; para cantar, falar, pedir, chorar, para tudo, gritamos.
Só que depois de uma “desintoxicação” pela qual eu tinha passado, as vozes de todos pareciam penetrar em minha alma. Doíam. Era como se eu estivesse realmente perdida num mundo completamente estranho. Foram dias difíceis. E ali aprendi a segunda parte da minha lição: o respeito à voz dos outros e aos seus próprios limites.
Dias atrás, meus colegas de trabalho me disseram que eu falava muito alto. Da primeira vez pensei que estavam loucos. Eu não falo alto. Então passei a relembrar minhas antigas lições.
O que estava fazendo com que eu quisesse tomar a frente de tudo? O que me levava a não querer ouvir outra voz que não a minha? Sim, antes de tudo eu precisava descansar. Ouvir minha voz novamente, para voltar a ouvir a voz dos outros.
É no silêncio de casa, na paz da companhia de meus gatos, ao som de nossas respirações, de nossos batimentos cardíacos que me questiono sobre a altura da voz e a real necessidade de alterá-la.
Foi, sem dúvida, graças à minha amiga, que pude ter essa percepção. E essa lição, esse momento de parar e se ouvir para voltar a ouvir os demais, carregarei para sempre.
Neste fim de ano, quero aproveitar os dias mais livres para retomar esse aprendizado, para repensar meu posicionamento frente às pessoas. Preciso reaprender que não estou em guerra com ninguém, que a minha, como todas as outras vozes, precisam ser ouvidas e, que para isso, é preciso, mais que falar, ouvir.