Quando eu era criança, lá nos idos da primeira série, a tia Lourdinha, minha professora, vivia me chamando a atenção para que corrigisse minha postura durante as aulas. Segundo ela, a minha forma bizarra de ficar sentada, com as pernas dobradas em forma de lótus e a cabeça apoiada na mesa, traria sérios problemas na vida adulta. Eu deveria tê-la ouvido.
Quarta-feira, 18 de novembro de 2015. Acordei, como habitualmente faço, às 5:30h da manhã. Tratei meus gatos, limpei a caixa de areia deles, preparei meu café. Tudo direitinho. Aí fui escovar os dentes. Na hora de enxaguar a boca, a tragédia. Ao me dobrar, não consegui voltar à posição anterior. Não era possível ficar ereta.
Uma dor terrível. Os braços mal se moviam. Tive medo de deitar e não conseguir levantar. Tomei meu remédio de fibromialgia e pensei que era melhor ir trabalhar pois se algo desse mais errado eu poderia rapidamente ir ao hospital.
Peguei o ônibus como uma velhinha bem velhinha faria. Me segurei nas barras das portas, andando lentamente. Por sorte achei um lugar pra sentar. A cada freada do motorista sentia como se minha coluna estivesse sendo arrancada.
Aos poucos o remédio passou a fazer efeito e os braços ficaram mais fáceis de mover. A coluna doía mas não tanto quanto antes.
Na hora do almoço fui postar uma documentação para minha mãe e ao retornar ao trabalho percebi que não deveria ter feito aquilo. A dor voltava lentamente. Almocei e ao tentar escovar os dentes, ou seja, no movimento pra abaixar na pia, lá veio o choque. Desta vez mais intenso. Não aguentei e chorei.
Não lembro de ter sentido uma dor tão violenta como a que senti naquela hora. Nada mais passava pela minha cabeça, somente a dor. Mandei uma mensagem a meu companheiro que saiu de seu trabalho para me buscar e levar ao médico. No postinho quiseram chamar a ambulância para me levar.
Devia ser cômico me ver andando. Curvada, apoiando em paredes ou corrimões. (Eu mesma dou risada de mim percebendo como é que tenho andado.) Todo movimento era um golpe. Em casa, medicada, deitei. E levantar foi um suplício. Manter-me sentada era doloroso. Tem sido.
Hoje é o segundo dia da dor. Enquanto permaneço deitada, sem poder fazer esforços ou movimentos bruscos, quase me esqueço da dor. Ao levantar, ao tentar me manter sentada, aí ela vem com gosto.
Os gatos, coitados, me chamam, miam, saem correndo, talvez na esperança de que eu faça o que faço todos os dias: corra atrás deles e brique, pegue-os no colo e os amasse. Não é possível. Dói. E dói bastante.
Os remédios são daqueles que derrubam um elefante. É tomar e pouco tempo depois apagar. São bons pois garantem que a dor ficará afastada. Ou esquecida.
Ando lentamente pela casa, preciso de ajuda pra levantar (apoiando-me nas coisas), não permaneço muito tempo sentada e menos ainda em pé. Uma alegria sem fim (ironia mode on).
Não sei se ter seguido os conselhos da tia Lourdinha impediria o que aconteceu, mas talvez evitasse que minha coluna doesse tanto em outras ocasiões.
Na imobilidade forçada, chata, doída, vou levando esses dias de novembro, chuvosos, com grandes oscilações de temperatura. E tentando rir de minha condição de entrevada. Condição que espero que passe logo, urgentemente. E aí, quem sabe, eu refaça um dos mais repetidos planos de ano novo: exercitar-me. Mas desta vez, de verdade. Eu realmente to achando que vou precisar.