Da utilidade

Das muitas coisas que tomam meus pensamentos, uma é a utilidade dos meus escritos. Para que eles serviriam? Deveriam servir para algo? E a que seria?

Nos últimos dias esse tema tem se tornado frequente em minhas conversas, não tanto por meus escritos, mas pelo tema em si. Outras pessoas também se questionam. De que serve escrever? Para que escrevo?

Como eu, outros escrevem para si, escrevem para esclarecer ideias, escrevem para tornar quase real aquilo que muitas vezes não parece possível.

Escrevemos para aliviar a alma, para refletir, para rirmos, para desabafarmos, para mostrar, mais que aos outros, a nós mesmos, que existimos, que estamos aqui. Embora muitas vezes não saibamos ao certo para quê.

As linhas que traço não pretendem servir de base para nada nem ninguém. Não quero que se tornem parte de um manual, não quero que uma frase pareça resumir aquilo que sou. Porque não se pode resumir aquilo que alguém é. Escrevo para não esquecer, já falei sobre isso; escrevo para mim.

Escrevo sobre gatos, sobre montanhas, papéis, pessoas, vento, política. Escrevo sobre as coisas que naquele momento parecem fazer sentido para mim. E pode ser que nunca mais volte a escrever sobre o assunto, porque  ele deixou de ser importante em meu mundo estranho. Ou pode ser que eu me repita inúmeras vezes, por não encontrar a resposta que procuro, por não encontrar o sentido que pretendia, por não encontrar o alívio tão sonhado. Ou simplesmente porque gosto de me repetir. Para não esquecer.

Temos a ideia de que se não é a “descoberta da pólvora”, a “descoberta da cura do câncer”, “a forma de erradicar a fome do planeta”, então não serve para nada! Ledo engano.  Todas as noites construímos mundos, todos os dias imaginamos coisas que nunca terão “utilidade”. A não ser a de alimentar nossas almas e nos manter vivos e prontos para a batalha. Como certas linhas escritas aqui e acolá.