Sansara

É quase como se não pudéssemos fazer diferente. Chega o fim do ano e todo mundo espera que façamos uma análise do ano que finda e projetos pro ano que começa. Tanto que a gente se pega fazendo isso de forma meio automática. O que me fez lembrar das aulas sobre Durkheim. Enfim.

2023 foi um ano estranho (qual não foi?). Um ano em que, de certa forma, retomamos a confiança pra sair sem máscara, pra comer coisas na rua, pra roubar uma uva no mercado. Mas também foi um ano em que vimos pessoas adoecer (e, em especial, de covid-19) e o medo ressurgia, nos fazendo temer entrar no elevador com um estranho. Talvez o que a pandemia nos deixe, além de toda a dor da perda, seja esse deslocamento, essa sensação de que nunca mais o mundo parecerá seguro. De que aquela ilusão foi pra sempre destruída. Tipo quando Truman descobre que seu mundo não existe.

2023 foi, também, o ano em que eu retomei meu tratamento de fibromialgia mais a sério. Pois em 2023 eu desenvolvi alguns outros problemas que pioram imensamente a condição da fibro. Meio a contragosto retomei a utilização de alopáticos diários e, embora não se possa dizer que está tudo maravilhosamente bem, a melhora é, sim, perceptível. E cuidar da saúde (mais) foi algo que 2023 mostrou que precisa ser feito. E aqui não é a saúde física, somente. Precisamos deixar de compartimentalizar a saúde e entendê-la como um todo. Eu tenho tentado.

A saúde e o cuidado de si – nessa perspectiva mais ampla mesmo – é algo que vinha sempre batendo à minha porta; algo de que estava sempre ciente, mas que, de uma forma ou outra, acabava ficando pra depois. Pelo menos, em parte. Mas é impossível mesmo dizer que se está saudável se alguma coisinha não estiver nos eixos. Então, dizer NÃO para situações que não me são confortáveis, que antes geravam uma espécie de sentimento de inadequação, hoje é compreendido como parte do caminho para a vida saudável. Estar bem comigo ficou mais e mais e mais importante que antes.

E foi por isso que retomei a fisioterapia para meus braços. Detesto fisioterapia. Muito. Mas tive a sorte de pegar uma fisioterapeuta querida, comprometida e que ouve, de verdade, o que digo e, assim, monta um bom plano de ação. Que rendeu ótimos resultados, diga-se.

Foi, ainda, um ano em que me superei nas leituras. E a leitura faz parte de minha terapia. Li muito, pelo menos para os meus parâmetros, ainda que tenha dado umas patinadas ao longo dos doze meses. Períodos em que me perguntava para que continuar lendo livros tão chatos, por exemplo. Pois em 2023 eu aceitei que thriller (psicológico, policiais, fantástico, mistério ou políticos) é meu gênero favoritíssimo. Ainda assim, me esforço para ler outros gêneros, com algumas restrições (romances românticos, por exemplo). E, já passando para a área dos planos, fiquei imaginando mudar a forma como lido com essa aventura. Pois, para mim, ler é, sim, uma aventura. E, embora não tenha nada definido, queria exercitar a escrita resenhando os livros que for lendo ao longo do próximo ano. Por isso, para tentar entender o que fazer, como fazer, etc., encerrei a leitura de novos livros uns dias mais cedo. O que me deixou bem ansiosa e meio enlouquecida. Mas dia 01 ta chegando ahahahhahahahaha

Também como terapia, há uns anos descobri o artesanato. Por vários motivos o feltro foi saindo de minha vida e, em 2020, doei praticamente todo meu material para uma pessoa que estava na mesma situação que eu, quando comecei. Tomara mesmo que o feltro tenha sido para ela o que foi pra mim. Mas em 2023 resolvi dar asas (em voos imprudentes, inclusive) à terapia com papel, envolvendo lettering, quilling, desenho e dobradura. Talento? Nenhum, né. Mas a paz que isso dá… Meu, não tem como negar. Dou risada sozinha (o que não é exclusividade do trabalho com papel), risco, rabisco, rasgo, esqueço que existe um universo fora da minha mesa, das minhas canetas, estiletes, papéis… E, ainda que o faça de maneira muito lenta, quero aprender mais, quero brincar mais nesse universo de possibilidades. Só não o fiz em 2023 pelas limitações do meu bracinho direito, ainda em tratamento. 2024 ta prometendo.

Como será 2024? Gostaria de dizer que será um ano em que a gente vai ter segurança (nas ruas, no congresso, na educação, na saúde, nas finanças…). Que vai ser possível realizar aqueles desejos que deixamos pra depois por falta de tempo, de grana, de companhia, vai saber. Euzinha quero mesmo é tomar o meu tempo de voltar e fazer bom uso dele. Quero rir, quero me emocionar, quero estar presente 100% no que eu me dispuser a fazer. Quero lembrar todo dia que esse compromisso é COMIGO. Pra 2024 e pra todos os anos depois dele.

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